Em 2009, depois de ameaçar ficar longe de Brasília se não festejasse o Dia da Independência no camarote presidencial, Rose viu o desfile ao lado de Lula. Quatro anos mais tarde, é bom que se cuide
Em 6 de setembro de 2009, o Cerimonial do Palácio do Planalto foi alvejado por um inquietante pito eletrônico: “Não foi autorizada minha presença e de meu acompanhante no camarote do PR. Gostaria de saber de quem partiu a restrição. Ou vou no do PR, ou simplesmente não vou. Desculpe o jeito, mas estou muito ofendida”. Oficialmente, a mensagem fora remetida pela chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo. Mas o tom e o teor do recado lembraram aos destinatários que Rosemary Noronha era muito mais que isso.
Tanto era que a chefia do Cerimonial só precisou de alguns minutos para fazer chegar ao presidente Lula o que lhes parecia um grave assunto de Estado: se não ficasse ao lado do PR, iniciais do cargo ocupado pelo homem a quem se referia como “meu namorado” quando alguém precisava saber com quem estava falando, Rose não assistiria ao desfile do Sete de Setembro em Brasília. Imediatamente, Lula incumbiu o secretário Gilberto Carvalho de resolver o problema. Sem fazer barulho e, claro, sem provocar ruídos no doce convívio com a mulher ofendida.
Especialista na lida com material inflamável, a caixa-preta mais abarrotada do país deve ter achado aquela missão coisa para principiantes. Bastou-lhe anexar dois nomes à lista dos convidados para o camarote e remanejar posições na fila do gargarejo. Na manhã seguinte, lá estavam Lula e a segunda dama lado a lado, trocando sorrisos entre a passagem da ala dos cadetes e uma pirueta da esquadrilha da fumaça. Bem mais complicada foi a missão confiada a Gilberto Carvalho em dezembro passado, depois das explosivas descobertas da Operação Porto Seguro.
Para que o casal não ficasse ainda pior no retrato, o agora secretário-geral da Presidência foi encarregado de evitar que investigações internas confirmassem que, durante anos, Rose usou o posto de Primeiríssima Amiga para ganhar dinheiro como quadrilheira de quinta. Gilberto Carvalho entrou em ação assim que soube da sindicância aberta pela Casa Civil para investigar o caso da ex-secretária de sindicato que subiu na vida pela porta dos fundos.
Deu tudo errado, mostra a reportagem de VEJA. Primeiro, o ex-seminarista que hoje só celebra missas negras abriu um inquérito paralelo concebido para dar em nada. Falhou. Depois, armou sucessivas tramoias para bloquear o avanço da sindicância. A ministra Gleisi Hoffmann não gostou da intromissão abusiva. Além de interpelar o colega, queixou-se a Dilma Rousseff e foi instruída para seguir em frente. No fim de setembro, além de Rosemary Noronha, foram exonerados dois auxiliares diretos de Gilberto Carvalho.
Envolvidos na trama, perderam o emprego o secretário de Controle Interno, Jerri Coelho, e seu subordinado Torbi Rech, coordenador-geral de Correição. Atropelados por Gleisi, não foram socorridos pelo chefe que articulou a conspiração. Caprichando na pose de quem nunca soube de nada, Gilberto Carvalho tentou assumir a paternidade da ideia de demitir os comparsas que “inexplicavelmente adotaram todas as medidas sem consultar qualquer um dos seus superiores”.
Neste domingo, em entrevista ao jornal espanhol El Pais, Lula jurou que nada tem a ver com as patifarias do partido que fundou e sempre comandou. “Por que queríamos chegar ao governo? Não para fazer o que os outros fazem, mas para atuar de maneira diferente”, fingiu indignar-se o chefão do bando que juntou os incapazes capazes de tudo — como Gilberto Carvalho. Haja cinismo.
Gente assim não tem afetos reais. Rose Noronha que se cuide.
Olha a Rose aí, acima da cabeça da Marisa de camisa branca. E olha onde achei.
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